sexta-feira, 22 de maio de 2009

Muito triste

Tá todo mundo muito triste
Cantando músicas tristes
E cada dia fica mais
Ninguém consegue mais se espantar
Com esse jeito tão comum de cantar
E eu posso falar, eu tiro os outros por mim

Tá todo mundo muito triste
Tentando ver os claros da vida
E cada dia fica mais mais difícil
Não se ver a escuridão

Ninguém consegue olhar mais ninguém de frente
Ninguém consegue mais se entregar contente
Ninguém consegue mais abrir as portas do coração

Tá todo mundo muito triste
Como se fosse quarta-feira de cinzas
De um carnaval antigo

Tá todo mundo muito triste
Cantando músicas tristes
E cada dia fica mais fácil cantar assim

Eu tiro os outros por mim
Eu tiro os outros por mim

Autoria: Zé Rodrix

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tigresa

Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando a pele de ouro marrom
Do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom e o bem cruel

Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta sem certeza tudo o que viveu
Que gostava de política em mil novecentos e sessenta e seis
E hoje dança no Frenetic Dancin' Days

Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair
Com alguns homens foi feliz com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz, vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão

As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse não
E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento

Autoria: Caetano Veloso
Tigresa no YouTube

Tatuagem

Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é prá te dar coragem
Prá seguir viagem
Quando a noite vem...

E também prá me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava...

Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem...

E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha
Farta, morta de cansaço...

Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem...

Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva...

Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes...

Autoria: Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra
Tatuagem no YouTube

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Barroco

Eu tô girando pelo quarto
Olhando o teto abobadado
No centro exato de um palácio
Com dez mil nobres no meu rastro
Eu vejo o ouro brasileiro
O terremoto de Lisboa
Os espanhóis sonhando o mundo
Os jesuitas no meu rastro

No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"

Jerusalém foi libertada
O Conde Orgaz bateu as botas
Os santos sobem pelos ares
Santa Teresa no meu rastro
Vejo cabelos no retrato
Um movimento me arrebata
É Pedro, o Grande, em seu cavalo
Trezentos frades no meu rastro

No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"

Tenho jardins à minha volta
O povo longe, além das grades
Mas Holandeses que me azaram
E tenebrosos no meu rastro
Tô violento e apaixonado
Absoluto e perturbado
É que tem ecos pela sala
De alguém Furioso no meu rastro

No claro-escuro
É que ela me vê
E diz assim:
"Sai daí, vem pra mim
O paraíso fica aqui"
Eu, dividido, digo:
"Se eu tiver que ler tudo do Barroco
Que tempo vai sobrar pra minha nêga?"

Autoria: Vitor Ramil
Barroco, no MP3Tube